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quarta-feira, 22 de outubro de 2014

Meninas da noite


Título: Meninas da noite
Autor: Gilberto Dimenstein
Gênero: Jornalismo
Editora: Ática
Ano: 1992
Páginas: 163










Brasil, um país subdesenvolvido, ou um país emergente? Depende à qual Brasil você se refere. Existem 2 mundos completamente opostos dentro de um mesmo país, separados pela tênue linha norte-sul. Dois mundos fisicamente tão próximos e culturalmente tão distantes.
Gilberto Dimenstein convida o leitor à acompanhá-lo por essas terras, numa investigação sobre tráfico humano. Crianças e adolescentes sequestradas, aliciadas, ou vendidas por suas próprias famílias, para ser prostitutas-escravas nos prostíbulos e garimpos do norte do país, onde a prostituição infantil, o abuso sexual, o trabalho escravo, o estupro, a pedofilia, são coisas "normais". O autor relata a naturalidade com que o assunto é tratado entre os envolvidos, onde ele se viu como o único indignado com a situação, que para os demais é fato comum, parte da cultura.
O livro traz depoimentos com várias dessas meninas, muitas ludibriadas com falsas promessas de emprego e bom salário. Ao chegarem ao local eram obrigadas a se prostituir, lá já chegavam devendo o valor da passagem e só podiam ir embora quando pagassem, porém a dívida só crescia, com refeições, moradia, roupas, remédios... O dinheiro ia todo para as mãos dos cafetões e a divida não acabava nunca. A PM por sua vez, também era cúmplice do esquema, como capitães do mato capturavam as meninas fugitivas e as levavam de volta para os seus "donos." (E você aí achando que a escravidão acabou com a lei áurea? É, eu também aprendi isso na escola...)

Meninas da noite é um livro reportagem desenvolvido para a folha de São Paulo, foi publicada em 6/2/1993. O assunto virou destaque internacional no The Washington post (EUA) The Guardian (Inglaterra) e primeira página do Corriere Della Sera (o mais importante da Itália). Porém o governador do estado do Pará, Jader B. e sua esposa Alcione Barbalho, cúmplices do esquema, reagiram com ironias e agressividade à publicação da matéria, publicando em reposta, matérias ofensivas em seu jornal; O Diário do Pará. Absurdamente, a revolta no Pará foi contra o jornal, o jornalista e a publicação da matéria, e não contra a escravidão e o tráfico, porém a repercussão internacional forçou o governo brasileiro a tomar uma atitude e a polícia federal invadiu o local, as meninas foram libertadas, e os cafetões presos. Os casos de tortura, ameaças e assassinatos de meninas vieram à tona.

É inadmissível a prostituição infantil, a escravidão, o tráfico de pessoas, e a impunidade à quem enriquece as custas dessas crianças e adolescentes, sem nenhuma represália, e contando ainda com o apoio do governo e da polícia.
O livro é de 1992. Mas vocês acham que muita coisa mudou nesses últimos anos? Basta uma simples pesquisa para ver que as denúncias contidas no livro, em 1992, infelizmente se faz tão atual quanto o último lançamento.

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