Um blog criado a 4 mãos, uma parceria entre irmãs, para comentarmos sobre os livros que lemos, e compartilhar opções de boa leitura.
Escolha um livro, pegue uma xícara de café e venham me desfolhar, sintam-se à vontade.

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Paula


Título: Paula
Autora: Isabel Allende
Gênero: Biografia
Editora: Best Bolso
Páginas: 431
Ano: 1994











"Silêncio antes de nascer, silêncio após a morte, a vida é puro ruído entre dois mundos insondáveis."

Você quer descobrir o significado da palavra “pungente” ? 
Leia o livro Paula.

Tocante do início ao fim, Isabel Allende começou o livro para que Paula lesse quando acordasse do coma e tivesse recordações da família, mas acabou como um lamento visceral de despedida. Como a própria Isabel Allende diz: “Minha avó escrevia em seus cadernos para reter momentos fugidios e tapear a memória fraca. Eu tento distrair a morte”....

Em Dezembro de 1991 Paula da entrada num hospital na Espanha com graves complicações devido a Porfiria, mergulha num coma profundo e irreversível, após alguns meses é transferida pra Califórnia e instalada na casa de sua mãe, onde foi montado um quarto-hospital pra que permanecesse no regaço da família.

"Você vai ficar boa filha? Eu a vejo nessa cama, ligada a meia dúzia de tubos e sondas, incapaz até de respirar sem auxilio, mal a reconheço, seu corpo mudou e seu cérebro está nas sombras. O que passa por sua mente? Fale pra mim de sua solidão, do seu medo, das visões distorcidas, da dor de seus ossos que pesam como pedra, dessas silhuetas ameaçadoras que se inclinam sobre sua cama, vozes, murmúrios, luzes, nada deve ter sentido pra você, sei que ouve porque se sobressalta com o som de um instrumento metálico, mas não sei se entende. Você que viver Paula? Você passou a vida procurando a união com Deus. Quer morrer? Talvez já tenha começado a morrer. Agora, que sentido tem seus dias? Você voltou ao lugar da inocência total, voltou para as águas do meu ventre, como o peixe que era antes de nascer. Conto os dias e eles já são muitos, muitos.

Acorde, filha, acorde, por favor..."


Isabel Allende te conduz pela sua vida pessoal, começa com suas memórias mais antigas com seus avós: “Meme e Tatá” passa pelos seus pais, sua infância, adolescência, o casamento, a chegada dos filhos Paula e Nicolás o início da doença e o longo martírio que se tornou a fase mais crítica da patologia, ela entrelaça descrições viscerais da filha em coma, com suas lembranças do passado, descreve com clareza a dor na alma de uma mãe que se vê dizendo adeus dia após dia da filha que cada vez mais entra nas profundezas da escuridão. Passa pela história política do Chile retratando a vitória de seu tio Salvador Allende como 1º Presidente Marxista eleito pelo voto direto no Chile em 1970 e deposto num golpe de estado liderado pelo seu chefe das Forças Armadas Augusto Pinochet em 1973.

"Um dia a mais de espera, um a menos de esperança. Um dia a mais de silêncio, um dia a menos de vida. A morte está solta pelos corredores e minha tarefa é distraí-la para que não encontre sua porta."

É um suave e profundo mergulho nos sentimentos que a dor e o tempo coloriu à sua maneira. O livro é repleto de personagens todos reais, cativantes e ao mesmo tempo esquisitos, a figura de seu avô Tatá parece tangível pra quem lê. A autora consegue te envolver a cada linha te conduzir pela sua história de tal forma que chega um determinado momento onde você (leitor) está praticamente inserido no contexto familiar da autora. É como abrir as janelas e deixar que o vento entre, chacoalhe as cortinas, e junto traga do passado seus personagens pra ler ao seu lado......

"Acabou para mim a correria da vida, entrei no ritmo de Paula, o tempo sossegou nos relógios. Nada a fazer. Disponho de dias, semanas, anos, junto à cama de minha filha, fazendo hora sem saber o que espero."

2 comentários: