Um blog criado a 4 mãos, uma parceria entre irmãs, para comentarmos sobre os livros que lemos, e compartilhar opções de boa leitura.
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segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Por um fio

Título: Por um fio
Autor: Drauzio Varella
Editora: Companhia das letras
Gênero: Ciências humanas
Páginas: 218
Ano: 2004









Nesse livro, Drauzio Varella retrata seus 30 anos de convívio com pacientes em fase terminal. Relata histórias de pessoas diagnosticadas com câncer ou HIV, pessoas que sobreviveram, outras que não tiveram a mesma chance, pessoas que lutaram, outras que preferiram morrer ao viver com limitações e sofrimento. A reação das pessoas diante da possibilidade, muitas vezes quase certa da morte, como a visão das pessoas mudam; suas relações afetivas, seus valores, os bens materiais, o significado das coisas, como o importante pode se tornar supérfluo e vice versa "Um doente que não consegue se alimentar há uma semana é capaz de chorar de emoção ao conseguir engolir 3 colheres de sopa de mandioquinha; outro comemora a proeza de conseguir andar até o banheiro com a alegria de quem ganhou a maratona de New York. Só quem padece de dores continuas conhece o prazer de passar duas horas sem ela."
Drauzio descreve também a reação dos familiares, pessoas que se dedicam por completo ao ente querido, outros que mal vão visitar, filhos que desejam que os pais morram logo para não lhes dar trabalho ou para de apropriar dos bens, o marido que se casa com a cunhada após a morte da esposa, casais mesquinhas que não se desprendem de bens materiais pela vida ou conforto do conjugue, na maioria, pessoas com grande poder aquisitivo. Drauzio relata que aprendeu a dar mais valor aos gestos do que as palavras dos doentes e das pessoas que os cercam, e que talvez as únicas palavras confiáveis sejam as da mãe para com o filho.

Em especial duas histórias me chamaram a atenção:
"Presente de Deus" onde ele relata que algumas doenças progridem causando anorexia e cita o caso de um paciente que tinha a refeição como um de seus grandes prazeres na vida e que foi perdendo esse prazer conforme a evolução da doença, sentindo o apetite esvair-se pedia à cozinheira que fizesse pratos diferentes, porém não conseguia sentir prazer em nenhum "instalou-se um conflito acirrado entre a variedade de sabores arquivados em sua memória e a incapacidade progressiva de obtê-los." 
Eu então pensei em quantas pessoas se limitam e passam vontade de comer algo que gostam só para perder 2 quilinhos, se punem com regimes ao invés de desfrutarem do prazer de saborear uma comida que gostam, enquanto podem, enquanto tem saúde
 para isso.

A segunda História; "Os gêmeos" Levaram o pai até o hospital, bancaram todas as despesas médicas, mas nunca o foram visitar, o pai queixava-se com todos pela ingratidão dos filhos e de suas ex-mulheres, todos se compadeciam pelo pobre e solitário velhinho. Os filhos foram chamados ao hospital e lhes foi pedido que ao menos visitassem o pai nos seus últimos dias de vida. O filho respondeu que aquele homem havia abandonado sua mãe logo que eles nasceram, disse a ela que não estava preparado para assumir uma família e que além disso já tinha outra mulher, anos depois eles descobriram o endereço do pai e quiseram conhecê-lo, foram até lá, e o ouviram dizer: "O que querem? Dinheiro? Quem disse que sou pai de vocês? Convivi com vocês menos de um mês, não me sinto pai de ninguém."
Ele não deveria então agradecer pelos supostos filhos estarem pagando seu tratamento ao invés de criticá-los? Afinal, eles não tinham essa obrigação para com alguém que não era seu pai.
Você sente dó de velhinhos? Em especial aqueles solitários que se fazem de vitima o tempo todo? Quem será q essa pessoa foi no passado para estar assim hoje? Antes de ter dó, lembre-se que toda história tem 2 lados e que gente ruim e mentirosa também envelhece.

Bem, concluindo, o livro não é lá uma leitura muito agradável e divertida né? Te faz pensar que determinada situação que você está lendo nesse momento pode acontecer com você amanhã, você pensa no "medo" não da morte, mas do caminho que vai te conduzir até ela, ainda assim é uma leitura que vale a pena, te faz refletir sobre como é bom estar saudável, e quem sabe, dar um pouco mais de valor para as coisas que até então você nem tinha notado que são importantes...

...Como saborear um sorvete sem medo de engordar... ;)

2 comentários:

  1. Esse livro é muito bonito, dá uma vontade de chorar em alguns capitulos ... muito lindo ver a sensibilidade do médico em lidar com uma doença tão triste. Meu capitulo favorito é o Fernando em que Drauzio conta a despedida do irmão. Ótima dica Meninas!

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