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sexta-feira, 12 de outubro de 2012

A mulher do vizinho.

Titulo: A mulher do vizinho
Autor: Fernando Sabino
Gênero: Crônicas
Editora: Record
Páginas: 205
Ano: 1982 (18° edição 2008)











O AFOGADO

- Vocês não souberam o que aconteceu com o carro dele?
Como nenhum de nós soubesse, pôs-se a contar-nos, excitado:
- Imaginem que tinha um sujeito se afogando na Praia de Botafogo e vários carros já haviam parado para ver. Ele parou atrás, junto à calçada. Então veio outro carro em disparada e bateu de cheio no dele.
- Estragou muito? Perguntou alguém da roda.
- Espere, não foi tudo: O dele, por sua vez, bateu no da frente. O da frente atropelou duas moças que iam passando. Elas ficaram feridas levemente, mas os carros ficaram completamente amassados. O dele, então, virou sanfona.
- Mas que azar! Comentou um, consternado.
- Logo aquele carro, novinho em folha! Disse outro.
- Pois foi isso: Ficou em pandarecos.
- Então vai custar um dinheirão para consertar.
- Não tinha seguro? Tornou o primeiro.
- Ele não, mas o que bateu tem seguro contra terceiros: Só que um seguro de cem mil não dá para cobrir o estrago de jeito nenhum.
- Além do mais, é um inferno tentar receber seguro nessas situações.
- Foi o que ele me disse. E tem os outros dois carros, que naturalmente vão pleitear parte desse seguro também.
- Mas se a culpa foi do outro, tem que pagar tudo.
- Até provar que a culpa foi do outro...
- Não houve perícia?
- Não, parece que não houve perícia.
A conversa prosseguiu entre comentários em que todos lastimavam a falta de sorte do amigo. Todos, menos eu, que me limitava a ouvir, pensativo.
- Você não disse nada. Observou um deles.
É verdade, eu não disse nada, continuei calado. Não havia muito que dizer, além do que já fora dito pelos outros. Mas na realidade gostaria de saber o que foi que aconteceu com o homem que estava se afogando.


Fernando Sabino nasceu em 12 de outubro de 1923, em Belo Horizonte. Aprendeu a ler em casa, na adolescência trabalhou como locutor de rádio e já escrevia para revistas da cidade.
Foi redator na “Folha de Minas” e em 1941, publica no Rio de Janeiro, o livro de contos “Os Grilos não Cantam mais" seu primeiro lançamento literário.
Trabalhou na Secretaria de Finanças de Minas Gerais, e como professor de português. Em 1943, é nomeado oficial de gabinete do secretário de Agricultura do Estado.
Em 1944, muda-se para o Rio de Janeiro para trabalhar como oficial de Registro de Interdições e tutelas da Justiça, forma-se em direito em 1946, e viaja para os EUA com Vinícius de Moraes. Morou em Nova York por dois anos, trabalhando no Consulado Brasileiro.
Em 1956, lança o livro “Encontro Marcado”, obra editada até no exterior. Em 1957, decide viver somente da escrita, lançando livros e escrevendo para os jornais. Em 1964, é contratado por João Goulart para trabalhar em Londres. A permanência na Inglaterra o fez correspondente da Copa de 66 para o Jornal do Brasil.
Faleceu no dia 11 de outubro de 2004.
À seu pedido, seu epitáfio é o seguinte: "Aqui jaz Fernando Sabino, que nasceu homem e morreu menino".
Fonte: http://www.infoescola.com/escritores/fernando-sabino/

Conheça mais livros do autor:
O gato sou eu
O tabuleiro de damas

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